Há quase cinco anos, a rotina do desenhista Reginaldo Carlos da Silva Filho inclui, todas as semanas, pelo menos uma viagem aoRecife. O jovem, de 23 anos, mora em Lagoa de Itaenga, a 69 quilômetros da capital pernambucana, mas a cidade não dispõe de atendimento para pacientes com câncer. Em 2008, ele descobriu que tinha câncer ósseo, contra o qual vem lutando desde então.
Casos como o dele serão beneficiados pela lei que entra em vigor nesta quinta-feira (23) e obriga o Sistema Único de Saúde (SUS) a iniciar o tratamento de câncer em até 60 dias após o diagnóstico.
Entre o surgimento dos primeiros sintomas e o início do atendimento no HCP, Reginaldo Filho peregrinou por oito meses. O jovem sentia fortes dores na perna, chegando a perder o sono. “Eu fui para um médico em Carpina, ele me passou remédio e mandou para casa, mas não resolveu. Fui para outro médico, em Limoeiro, mas só um terceiro médico fez um raio-X e me disse que podia ser um tumor”, recorda Reginaldo.
Aos 17 anos, Reginaldo foi diagnosticado com câncer ósseo na perna esquerda. Os três meses que levou para descobrir o tipo de câncer e a extensão da doença foram de muita apreensão. O adolescente namorador, que largou a escola para trabalhar em uma fábrica de tijolos, se viu sem perspectiva. “Eu me perguntava se ia morrer, tinha a sensação de que estava tudo acabado. Eu era muito novo, foi difícil”, conta o jovem, que atualmente trabalha como desenhista.
Já no HOSPITAL CANCER PERNAMBUCO, após o diagnóstico, foram necessários mais cinco meses, entre consultas e exames, para que o jovem iniciasse o tratamento. “A primeira quimioterapia foi muito boa, a dor sumiu. A pessoa chega a ficar sossegada, consegue dormir à noite. Fiquei animado”, lembra Reginaldo, que não teve do que reclamar durante o tratamento, exceto do sabor do remédio. "No começo, é muito ruim, a gente enjoa, tem que chupar uma bala, comer uma fruta para tirar o gosto da boca", lembra Reginaldo.
Amputação e desafios
Porém, um ano e meio depois de terminado o tratamento, o câncer voltou mais abaixo na perna. Também ósseo e agressivo, os médicos acabaram optando por uma cirurgia. “Foi preciso amputar parte da minha perna, para não correr o risco”, explica o jovem, que passou depois por acompanhamento de controle, para garantir que a doença não voltasse.
Porém, um ano e meio depois de terminado o tratamento, o câncer voltou mais abaixo na perna. Também ósseo e agressivo, os médicos acabaram optando por uma cirurgia. “Foi preciso amputar parte da minha perna, para não correr o risco”, explica o jovem, que passou depois por acompanhamento de controle, para garantir que a doença não voltasse.
Atendimento no Hospital de Câncer de Pernambuco | |
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Especialidade | Leitos |
Clínica médica | 56 |
Oncologia clínica | 46 |
Cirurgia | 94 |
Unidade de Tratamento Intesivo (UTI) | 10 |
Recuperação pós-anestésica | 6 |
Urgência | 5 |
Pediatria | 13 |
Total | 230 |
Fonte: Hospital do Câncer de Pernambuco |
Depois do que parecia ser uma vitória contra a doença, o jovem resolveu se permitir viver um pouco mais e viajou para a casa da irmã, em São Paulo. Lá conheceu pessoalmente uma prima, Laudiceia da Silva, atualmente com 30 anos, após nove meses de conversa à distância.
Eles se apaixonaram. “O jeito dele, a pessoa que ele é, tudo isso me conquistou”, conta Laudiceia, que largou a vida em São Paulo e foi para o Recife quando Reginaldo descobriu que o câncer ressurgira, agora no pulmão direito. “O plano da gente era que eu voltaria para o Recife para fazer a revisão e depois ia morar com ela em São Paulo”, lembra Reginaldo.
A descoberta do novo câncer não foi fácil. A família ajudou na mudança da jovem para Pernambuco. “Quando a gente descobriu, eu não conseguia mais trabalhar, não conseguia fazer nada, só pensar nele. Minha família ficou preocupada, mas entendeu. Eu larguei tudo e vim para cá, ficar com ele”, conta Laudiceia, que não se arrepende da mudança.
Em fevereiro deste ano, os dois se casaram no civil, emLagoa de Itaenga. Em abril, aconteceu a cerimônia religiosa, organizada pelos voluntários do Hospital do Câncer. Por sinal, foi com os voluntários que Reginaldo redescobriu o gosto pelo desenho. “A arte me ajudou a ‘esquecer’ que tinha câncer e viver a vida. É como diz o ditado: dormir com câncer, mas não acordar com ele”, explica o jovem, confiante.
Atualmente, o casal enfrenta um novo desafio. Após o tratamento do câncer no pulmão direito, foi identificado outro tumor no pulmão esquerdo. “Eu já estou fazendo os exames de sangue para começar a quimioterapia. Não vou desistir, é manter a cabeça erguida e ter Deus em primeiro lugar. Ele me trouxe até aqui”, acredita Reginaldo.
Fonte: G1
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