sexta-feira, 26 de junho de 2020

Tratamento do câncer deve ser priorizado mesmo na pandemia

Há 17 anos, a arquiteta e artista plástica Tatiana Camisassa Dhering, 58, enfrentou pela primeira vez a luta contra um câncer de mama e saiu vitoriosa. Porém, no início de abril deste ano, durante um autoexame, ela detectou um novo nódulo no seio.
Embora o Brasil enfrentasse o início da pandemia do novo coronavírus (Covid-19) e os especialistas estivessem reforçando a importância do isolamento social para conter o contágio da doença, Tatiana sabia que o câncer não podia esperar e decidiu ir em busca do tratamento. “Da primeira vez que fui diagnosticada aprendi que quanto mais rápido enfrentamos o câncer, maiores são as chances de cura e tomei a decisão de não esperar a pandemia passar para me cuidar. Não entrei em pânico com medo de ser contaminada pela Covid-19. Sabia que não adiantava ficar adiando, então busquei auxílio médico, fiz todos os exames seguindo todas as medidas de segurança e, no dia 30 de abril, a cirurgia foi realizada”, contou.
Após a cirurgia, o próximo passo para a recuperação seria começar a quimioterapia e, mais uma vez, Tatiana não quis esperar. Com o amparo médico necessário, ela iniciou o tratamento na Oncomed, em Belo Horizonte, e, no início de junho fez a primeira sessão. “Me sinto segura na clínica, que foi toda adaptada para o momento que estamos vivendo. Além de aferir a temperatura de quem entra no local, estão todos de máscaras, reduziram o número de cadeiras e disponibilizaram álcool em gel. Além disso, os médicos e as enfermeiras estão sempre em contato comigo para saber como estou”.
No entanto, nem todos os pacientes oncológicos diagnosticados recentemente tiveram o mesmo desfecho que o de Tatiana. De acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), a pandemia de Covid-19 cancelou 70% das cirurgias de câncer no Brasil entre março e maio, o que equivale a 116 mil procedimentos. Realizado em parceria com a Sociedade Brasileira de Patologia, o levantamento aponta que entre 50 mil a 90 mil brasileiros podem ter deixado de receber o diagnóstico de câncer nos dois primeiros meses da pandemia no país.
Dentre as razões para a queda nas cirurgias e a redução dos exames oncológicos, estão fatores como serviços de diagnóstico de portas fechadas, médicos e enfermeiros redirecionados para os casos da Covid-19 e hospitais com leitos reservados para atender a demanda que aumenta a cada dia.
Segundo o oncologista especialista em medicina interna e diretor da Oncomed BH, Roberto Porto Fonseca, é importante que os pacientes oncológicos ou com sintomas não se esqueçam que o tempo é um fator determinante para um tratamento eficaz. Ele ressalta que a orientação é que o tratamento oncológico deve ser priorizado mesmo diante do cenário do isolamento social.
“A decisão da manutenção ou não das terapias ou de exames de acompanhamento deve ser tomada junto ao médico assistente. A melhor estratégia é a continuidade do tratamento e adoção de medidas que reduzam a possibilidade de contágio pelo vírus”, afirmou.
Precauções que devem ser seguidas
O paciente com câncer deve tomar algumas precauções no dia de sua consulta ou tratamento, como ter somente um acompanhante, com menos de 60 anos, se possível, que não apresente sintomas de gripe. É importante tentar manter distância de outras pessoas, mesmo da equipe de saúde e não ficar próximo de outros pacientes. As recomendações de prevenção, como lavar as mãos, devem ser seguidas com rigor.
Mini-entrevista
Dr. Roberto Fonseca (ONCOLOGISTA E DIRETOR DA ONCOMED-BH)
Como a Covid-19 pode impactar um paciente em tratamento oncológico?
O vírus responsável pela pandemia, Sars-CoV-2, um patógeno com alto poder de transmissão, é potencialmente capaz de produzir uma doença com vários desdobramentos principalmente em pessoas portadoras de outras enfermidades, como pacientes com neoplasias hematológicas -leucemia, linfomas e mieloma, pessoas que passaram por transplante de medula óssea, além dos idosos, hipertensos, fumantes e diabéticos.
Devido à pandemia, muitas pessoas estão com medo de ir à hospitais. Como o atraso no diagnóstico pode prejudicar o tratamento?
A mortalidade por câncer em várias partes do mundo tem sido reduzida por dois principais fatores: prevenção primária e secundária. A prevenção primária diminui o número de novos casos e a prevenção secundária, através do diagnóstico precoce, aumenta o sucesso do tratamento e a chance de cura.
Diante do isolamento social, quando não é indicado postergar o auxílio médico?
Pessoas que tenham suspeita e apresentam algum tipo de câncer devem sim procurar orientação médica, tomando todas as medidas de prevenção de contágio já amplamente divulgadas. A prevenção de ambas as patologias pode salvar muitas vidas.
Como a Oncomed tem feito para incentivar os pacientes a não interromperem o tratamento e amenizar a insegurança nesse período de pandemia?
Os nossos pacientes têm sido informados da importância de se manter o tratamento regularmente. Todas as medidas de prevenção do contágio foram implementadas na Oncomed, aumentando a proteção dos nossos pacientes e colaboradores. Além disso, informações têm sido fornecidas com o intuito de diminuir infecções, com utilização de busca ativa, redes sociais e telemedicina.

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