sexta-feira, 29 de março de 2013

ABORDAGEM EMOCIONAL NO TRATAMENTO DO CÂNCER


O primeiro estudo consistente da abordagem emocional notratamento do câncer foi de autoria do oncologista Carl Simonton, da sua mulher, apsicóloga Stephanie Matthews-Simonton, falecida, e de James Creighton,nos anos 70.
Os autores verificaram queportadores de câncer domesmo tipo e no mesmoestagiamento evoluíam deforma diferente. A maioria, deacordo com as previsões dosmédicos, piorava e morria. Masum terço deles, continuavam a desmoralizar os sombrios prognósticos e se curavam. Aoestudar mais profundamente estes “sobreviventes do câncer”, os pesquisadoresobservaram quenão obstante se tratasse de um grupo muito heterogêneo quanto àidadesexoescolaridade e outras variáveistodos eles mostravam alguns aspectos emcomumEmbora soubessem que tinham uma doença grave, acreditavam que, de algummodo, pudessem controlá-la. E maistodos tinham uma crença inabalável de que nãopoderiam morrer sem antes cumprirem sua missão, fosse ela pessoalprofissional oufamiliar.
Os investigadores trabalharam exclusivamente com doentes terminais, isto é, medicamente incuráveis, nos quais a sobrevida estimada pelas normas americanas era de até 12 meses. Dividiram-nos randomizadamente em dois grupos, para reduzir as interferências do acaso. O grupo controle recebeu apenas o tratamento convencional indicado, enquanto que o grupo em estudo, além do tratamento médico apropriado, submeteu-se a sessões de relaxamento e visualização dirigida.
A comparação dos resultados entre os dois grupos foi surpreendente. Até a publicação destes dados, os pacientes do grupo em estudo já tinham vivido, em média, o dobrodo grupo controle. Mesmo os que morreram, chegaram a viver uma vez e meia a mais do que os pacientes que somente receberam o tratamento convencional! Lembre-se, atento leitor, que todos eram considerados incuráveis pelos médicos. Além disto, a qualidade de vida, expressa pela capacidade física e de trabalho, pela freqüência e intensidade de sintomas como dor, ansiedade/depressão, melhorou na quase totalidade dos pacientes que tiveram as sessões de “abordagem emocional” associadas ao tratamento médico indicado.
Não obstante estas evidências, os idiotas da objetividade da comunidade médico-científica rejeitaram as conclusões dos autores, desqualificando a metodologia empregada e, inclusive, distorcendo suas afirmações.
Os Simontons e Creighton nunca disseram que o paciente era conscientemente responsável – e muito menos, culpado – pela sua doença, e jamais recomendaram a substituição do tratamento convencional do câncer pela Abordagem MenteCorpo. Da mesma forma, nunca afirmaram que a dita abordagem era uma garantia para a cura da doença. Quanto à acusação de que levavam “falsas esperanças” aos doentes, pensamos que frente a uma situação de tantas incertezas – principalmente quando a medicina tradicional declara que nada mais resta a fazer –, levar esperança aos pacientes é mais do que uma boa idéia.
O trabalho mais impressionante sobre a influência da mente na evolução do câncer é de David Spiegel, professor associado de psiquiatria da Stanford University. Spiegel admitia que os grupos de apoio sociais contribuíssem para melhorar a qualidade de vida de mulheres com câncer de mama avançado, mas não acreditava que tivessem qualquer influência sobre a evolução da doença. E, para comprovar sua tese, dividiu aleatoriamente em dois grupos mulheres com câncer de mama metastático e/ou recidivante. Todas as participantes da investigação receberam o tratamento convencional apropriado. As pacientes do grupo em estudo se reuniram, adicionalmente, em sessões de 90 minutos, semanalmente, durante um ano. Nestas sessões, elas expressavam livremente as suas emoções, como o medo da morte, da dor, do sofrimento, da solidão, da tristeza e da raiva. Elas sabiam que iam morrer. Para muitas delas estas reuniões eram o único ambiente em que isto era possível, devido às dificuldades para tal no âmbito familiar, social e profissional. Além disto, Spiegel ensinou-lhes a auto-hipnose ericksoniana, que praticavam ao final de cada sessão e em casa.
No fim da pesquisa, o autor observou, como esperava, que as mulheres que se reuniam mostraram melhor qualidade de vida do que as do grupo controle: mais otimistas, mais alegres, menos ansiosas/deprimidas, menor uso de drogas para combater a dor.
Dez anos depois, ao rever o material da pesquisa, Spiegel defrontou-se com resultados para os quais não estava preparado, e que mudaram drasticamente a sua vida pessoal e as suas linhas de investigação. É isto mesmo, perspicaz leitor: as mulheres que se reuniram viveram o dobro das que somente receberam o tratamento convencional, o que até hoje não foi possível com o uso de qualquer remédio, cirurgia, radio ou quimioterapia!
Sem acreditar no que vira, Spiegel enviou seu trabalho, pedindo a renomados cientistas que encontrassem qualquer falha. Não conseguiram, apesar de estudarem profundamente o assunto durante quatro anos. Lembre-se o atento leitor que não se tratava de pacientes com câncer de mama em estágio inicial, localizado. Não, eram portadoras de câncer avançado.
Se os resultados obtidos se devessem a qualquer agente da hightech aplicado à medicina, até hoje a notícia estaria reverberando na mídia, e as indústrias produtoras de remédios e de material cirúrgico-hospitalar estariam se digladiando para conseguir o monopólio da sua fabricação.
Desde 1989, a publicação da pesquisa de David Spiegel motivou outros investigadores a usar abordagem semelhante, não só em portadoras de câncer de mama, como também de melanomas, AIDS, leucemias e linfomas, com resultados comparáveis e muito animadores. No estado atual da arte parece cada vez mais realista a hipótese de que viver melhor pode significar viver mais, como demonstrado em estudos prévios ou subseqüentes ao de Spiegel em praticamente todas as doenças graves, como as cardiovasculares, diabetes, artrites e disfunções sexuais, entre tantas e tantas outras.
Para concluir, referendo as palavras de Daniel Goleman, PhD pela Universidade de Harvard: “mesmo que a Abordagem MenteCorpo não prolongasse um só dia a vida dos pacientes com câncer (e de qualquer doença grave, acrescento), seria falta de ética deixar de incluí-los em programas semelhantes”, associados à terapia convencional.       

http://www.nelsonmarins.com.br/Artigos/artigonmarins7.htm

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