quinta-feira, 6 de junho de 2013

INEVITÁVEL PARTIDA


INEVITÁVEL PARTIDA
-------------------------------
É chegada a hora da partida – ainda ninguém sabe...
O velho homem-criança pára, olha e vê sua vida. 
Atrás de si, a pequena e sinuosa estrada percorrida, remedando o Rio das Rochas cujas águas escuta a entoar sonata de paz e tranquilidade!
Lá, ao fundo, as árvores, as flores, as crias, o rancho... Tudo esvaecido pelo tempo inexorável.
O vento, no campo aberto do vale, sopra aos ouvidos um zunido longo e melancólico, por vezes entrecortado, tamponado pela língua do vento mais forte, saltitante, como se pernas tivesse... Desalinha os cabelos brancos, esvoaçando-os como a lembrar e demarcar a sua simbologia. A tudo transforma... Silenciosamente.

Pássaros esvoaçantes cantam em despedida.
Cada pedra, cada cor em matiz diversa, cada aroma, cada som na natureza, uma lembrança da sua vida na amplidão da terra vasta.
Coração apertado, corpo trêmulo, cabeça em redemoinho - pensamentos-pipocas: quentes, saltitantes, barulhentos.
Angústia. Medo.
É chegada a hora... Ele sabe!
De tudo abre mão... Não sem sacrifício, dores, sofreguidão!
Corpo desnudo, mãos vazias. Bagagem só na mente, no coração!
Saudades, tristezas, apego, confusão...

Um fio, misto de aço e ouro - o amor aos que ama -, retém e fixa o seu olhar nos que deixa, na varanda, a lhe acenar as mãos: o adeus - “oh Deus!”.
Eis a última imagem... Nó na garganta! Última lágrima! Última passagem!

Quisera ter aprendido a sabedoria e a paciência do Rio!
Não vence as montanhas, nem as rochas enfrenta... A elas se integra, adentrando suas entranhas, fundindo-se da alma ao todo.
Deixa atrás de si mais que um caminho... Risca, rabisca e compõe quadro único, moldura de beleza, harmonia e vida: Vale do Rio das Rochas.
Você pode ver, ao menos um pedaçinho?

Seguem destino rio-riacho, velho-menino.

Mar à vista: imensidão!
Retorno!
Feminino: transmutação!

Leonam Otirb

Nenhum comentário:

Postar um comentário