sexta-feira, 28 de junho de 2013

Tabu familiar

As estruturas familiares se abalam quando há descoberta de um caso de câncer entre um dos seus membros. A expectativa de vida da pessoa se resume apenas ao antes e depois do diagnóstico da estrutura tumoral. Os familiares evitam falar sobre o assunto e a moléstia se transforma em um tabu. Infelizmente, é o que a maioria das pessoas imagina. O jogador de basquete Oscar Schmidt teve uma notícia este ano que deixou a todos entristecidos, ele estaria com um tumor no cérebro, passados exames, foi feita a cirurgia e o início do tratamento envolvendo quimioterapia. O câncer retornou com um grau de agressividade maior que da primeira vez, a segunda cirurgia foi feita e as chances de cura do maior cestinha brasileiro decresceram. O tumor cerebral nem sempre é um câncer, mas o câncer na região do cérebro requer um pouco mais de cuidado devido à localização do tecido afetado e seu estágio.

De acordo com o dr. Paulo Porto de Melo, médico neurocirurgião e colaborador do Departamento de Neurocirurgia da Universidade de Saint Louis, introdutor e pioneiro da neurocirurgia robótica no Brasil, "desde que o ex-jogador Oscar Schmidt, maior figura do basquete brasileiro, foi operado de um tumor maligno no cérebro, em abril deste ano, muito tem se falado sobre o assunto. Oscar foi diagnosticado com um tipo de câncer chamado glioma, localizado na parte frontal esquerda do cérebro. A escala de agressividade desse tumor vai de 1 a 4, sendo o primeiro benigno e o quarto, o mais grave. No entanto, embora um diagnóstico de tumor cerebral pareça sempre assustador, é preciso ficar claro: nem todo tumor no cérebro é câncer”.

Todos os dias o corpo humano substitui milhares de células, elas se recompõem todos os dias, são diferentes na sua estrutura e especificidade, as únicas células que não são repostas, são as do tecido nervoso, os neurônio e gliócitos. Quando ocorre o aparecimento de uma célula cancerígena (modificada no processo de formação), o próprio sistema imunológico se encarrega de eliminar o corpo estranho, mas às vezes essas migram se ramificam, principalmente, em outras células glandulares, causando uma infestação pelo corpo está feito o processo de metástase, quando o câncer se espalha por todo o corpo. Antes da metástase o diagnóstico prévio auxilia no processo da cura, já quando este é tardio, pode ser tarde também para o paciente.

Em algumas localidades anatômicas do corpo humano o crescimento de um tumor, não causa sintomas – entre os órgãos da região abdominal, pois há expansão dos órgãos para que o tumor cresça, principalmente, nas mulheres nos casos de câncer de útero – e o câncer só é diagnosticado quando seu estágio de desenvolvimento é grande, ou seja, já houve ramificação. No caso dos tumores cerebrais, eles podem ser definidos em dois grupos: tumor cerebral primário, onde um grupo (massa) de células anormais se iniciou no cérebro, e tumor cerebral metastático, por um câncer que começou em outras partes do corpo e se espalhou para o cérebro. Eles são classificados de acordo com sua localização exata, tipo de tecido envolvido, se não são cancerosos (benignos) ou cancerosos (malignos).

O tumor cerebral é o crescimento anormal de células dentro do crânio que leva à compressão e lesão de células normais do cérebro. "Eles são mais perigosos porque, com o crescimento do tumor, outras estruturas do cérebro vão sendo comprimidas e com isso pode-se perder funções, como mover as pernas, ou ter a sensibilidade de um lado do corpo prejudicada”, explica o neurocirurgião.

É necessário esclarecer que o diagnóstico de um tumor cerebral não é uma condenação, e sim uma constatação. O dr. Paulo esclarece: "Em Medicina o termo ‘tumor’ pode determinar quase qualquer coisa. Se formos analisar com rigor, até uma espinha é um tumor porque apresenta um aumento de volume, ou seja, uma tumoração, em uma área que não deveria haver. Sendo assim, fica claro que tumor não é necessariamente câncer.”.

Tem-se a comprovação do diagnóstico através do exame neurológico realizado pelo médico (clínico) e por exames complementares, a ressonância magnética (localiza a posição da célula cancerígena) e a tomografia computadorizada, sem ou com contraste – na maioria dos casos o contrate é de iodo, permite maior visualização dos tecidos nervosos.

Melo explica que os sinais e sintomas dos tumores cerebrais são muito variados e dependem, principalmente, do local da lesão. Podem incluir dor de cabeça, convulsões, fraqueza ou dormência em um dos lados do corpo, alterações da fala e da consciência. Geralmente, os sinais e sintomas se desenvolvem lentamente, mas costumam ser progressivos, ou seja, vão piorando com o passar do tempo. "Às vezes pode haver nenhum sintoma com tumores que crescem lentamente, muitas vezes durante anos. Eventualmente, o tumor começa a exercer pressão sobre o cérebro e isso leva a dores de cabeça e convulsões.”

Mesmos que os tumores cerebrais não "evoluam” para o câncer, o crânio sendo uma "caixa fechada”, mesmo os tumores benignos do Sistema Nervoso Central (SNC) podem ser muito graves, pois comprimem estruturas vitais do cérebro.

"A palavra tumor assusta qualquer pessoa. Assusta mais ainda quando é no cérebro. Mas, felizmente, nos dias de hoje, o avanço da tecnologia e os conhecimentos desta doença trouxeram mais esperança para os pacientes e seus familiares”, garante Paulo Porto de Melo. "A melhor solução é procurar um neurocirurgião de sua confiança, ou referenciado por alguém que lhe inspire confiança, para que uma avaliação criteriosa seja feita e a história natural da lesão e opções de tratamento sejam claramente discutidas”, completa.

De qualquer forma as orações e as mensagens de motivação e superação para o honroso Oscar Schmidt são válidas e bem recebidas, um País inteiro que reza pela melhora e cura do grande jogador – na forma literária da palavra – e formidável homem.

Fonte: Diário da Manhã in oncoguia

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