sexta-feira, 28 de junho de 2013

tumores mortais

Uma doença não contagiosa, o câncer pode ser definido como um grupo de mais de 100 doenças que se caracterizam pelo crescimento descontrolado de células anormais, chamadas de malignas. O coordenador de Câncer de Base Populacional, da Associação de Combate ao Câncer de Goiás (ACCG), médico-cirurgião de cabeça e pescoço José Carlos de Oliveira (53) lembra que, "por vezes essas células anormais podem migrar e invadir tecidos e órgãos em diversas regiões do corpo, originando tumores em outros locais. Quando isso ocorre dizemos que houve metástase”, diz.

Segundo ele, com uma divisão celular muito rápida e incontrolável, as células cancerosas costumam ser agressivas, determinando a formação de tumores malignos e constituindo um risco de vida para o paciente. "Por outro lado, o tumor benigno se caracteriza por ser apenas um acúmulo de células que se dividem muito lentamente, sem causar maiores agressões ao indivíduo”, explica.

Doutor José Carlos lembra que a maioria dos tipos de câncer tem suas causas ainda desconhecidas, mas 90% dos casos de câncer estão relacionados a fatores ambientais, como cigarro (câncer de pulmão); excesso de sol (câncer de pele); alguns tipos de vírus (leucemia); hábitos alimentares (câncer de mama; câncer de próstata; câncer de esôfago; câncer de estômago; câncer no intestino grosso); alcoolismo (câncer de esôfago, câncer da cavidade bucal); hábitos sexuais (câncer de colo uterino); medicamentos (câncer de bexiga, leucemias, câncer de endométrio); cânceres provocados por exposições ocupacionais, etc.

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), os mais comuns são os de pulmão, mama, colo-retal, estômago e fígado, que juntos respondem por quase metade dos novos casos de câncer que surgem no mundo a cada ano. "Mas o que é essa doença que assusta tanta gente?”, indaga o médico do Hospital Araújo Jorge, da ACCG e ele mesmo responde: "O câncer pode aparecer em praticamente qualquer parte do corpo, quando uma célula sofre mutações e passa a se dividir descontroladamente. Essas células doentes são capazes de induzir a formação de novos vasos sanguíneos para se alimentar e, quando atingem a fase chamada metástase, usam esses caminhos abertos para se espalhar pelo resto do corpo.”

Pessoas que têm histórico de câncer na família, de acordo com o doutor José Carlos, podem ou não desenvolver a doença, mas há alguns tipos de câncer, como o de mama, estômago e intestino, que podem ter influência genética. Atualmente o câncer é a segunda causa mortis no Brasil, perdendo apenas para doenças cardiovasculares. A letalidade do câncer, ou seja, sua capacidade de matar, depende de vários fatores. "Primeiro, das características do próprio câncer, como a rapidez com que ele cresce e invade tecidos e órgãos”, diz ele.

Especialistas do Instituto Nacional do Câncer (Inca) revelam que, atualmente, os cientistas têm investido em duas grandes áreas em busca de uma cura definitiva para a doença. Uma linha de pesquisa aposta na tentativa de cortar o suprimento de sangue do câncer, matando as células doentes por falta de alimentos. Outra trabalha com a ideia de estimular o sistema imunológico do paciente, ajudando o organismo a reconhecer as células cancerosas para eliminá-las.

O cirurgião da ACCG os tipos mais comuns em homens e mulheres. O câncer de pele pode incidir em pessoas de ambos os sexos. Mas o homem está mais susceptível ao câncer de próstata, pulmão, estômago e colo (intestino), enquanto que as mulheres são mais vulneráveis ao câncer de mama, útero, cólon e tireoide. "No homem, os tumores sólidos são os mais agressivos”, garante o médico.

Para o doutor José Carlos, o que tem se observado nos últimos tempos é que, entre as mulheres, o câncer de útero tem sido diagnosticado mais precocemente devido ao Exame Papanicolau, que é feito nos centros de saúde através do Programa Nacional de Controle do Câncer do Colo do Útero e de Mama (Siscolo/Sismama), do Ministério da Saúde. "Um fator interessante é que os dois tipos (útero e mama) se diferem por classe social e financeira. Enquanto o câncer de útero é diagnosticado mais em mulheres das classes mais baixas, o de mama se dá, em maior escala, nas de alto poder aquisitivo”, revela.

Entre os homens, o tipo de câncer diagnosticado com maior rapidez é o de próstata devido ao exame de Dosagem do Antígeno Prostático Específico (PSA) que tem colaborado, segundo o médico do ACCG, no seu diagnóstico desde 1998. No caso desse tipo de câncer, segundo o doutor José Carlos, não existe distinção de classe ou raça. "Ele pode ser diagnosticado em homens de todas as classes sociais”, garante.

ESTATÍSTICAS

A Associação de Combate ao Câncer de Goiás, de acordo com o médico José Carlos, não tem, ainda, números precisos de casos de câncer no Estado. No entanto, um estudo em fase de finalização pela Coordenação de Câncer de Base Populacional da ACCG mostra números referentes a 2010. Segundo o doutor José Carlos há registro de que cerca de 7 a 8 mil casos em Goiânia, o que seria um caso de "incidência média”.

Esses números, ainda segundo o doutor José Carlos, mostram que o caso do Césio 137 não tem representação na incidência de câncer na Capital goiana. "Fosse assim, teríamos números bem mais alarmantes. Os atingidos pelo Césio 137 têm acompanhamento de um grupo especializado e se tivesse o registro de casos de câncer entre estas famílias, nós teríamos a informação. Não tem nada a ver. O Césio não influenciou em nada”, garante ele.

O oncologista Osterno Queiroz, concorda com a posição de José Carlos, em relação ao Césio 137. "Ele é um elemento físico e radioativo, de baixa penetração na pele. Para que causasse câncer em toda ou grande parte da população, essas pessoas deveriam estar em contato direto com o Césio, o que não aconteceu. Já quem teve esse contato, realmente pode ter várias complicações. O problema de termos um índice alto da doença no estado está relacionado ao número de pessoas mais velhas. Há vinte anos a população era jovem, hoje não, essas pessoas envelheceram, o que pode ter feito essa incidência de câncer aumentar. Na velhice, as células vão se degenerando e sofrem mudanças, o que deixa as pessoas mais vulneráveis. Em todo o mundo proporcionalmente, de cada 100 mil habitantes, 250 pessoas têm câncer. A população carcerária do mundo é maior que isso”, ressalta.

Campanhas

O médico do Hospital Araújo Jorge diz que é necessário investir mais em campanhas educativas de prevenção, a exemplo do que ocorreu recentemente na tentativa de conscientizar os homens a se submeterem aos exames de próstata. "Precisamos estimular a população a ter maior cuidado com a saúde, pois com saúde não se brinca, é coisa séria”, alerta.

Ele também defende a necessidade de estimular as escolas de medicina a qualificar melhor seus alunos, inclusive quanto ao aumento do número de vagas para a residência médica. Hoje, segundo ele, este número está em torno de três mil enquanto são formados cerca de 30 mil médicos todos os anos no Brasil. "As escolas deveriam estar alertas quanto a isso. Estamos formando médicos sem qualificação para o mercado, o que é um risco sem tamanho”, diz o doutor José Carlos.

Administração de hospitais

A diretora-executiva do Centro Brasileiro de Radioterapia, Oncologia e Mastologia (Cebrom), Deborah Almeida, explica que os medicamentos têm preço médio de R$14 mil cada dose. ”Para as pessoas com planos de saúde, não há grandes problemas, a maioria dos planos cobrem esse valor, ou parte dele, para quem não têm já é mais complicado”, esclarece.

Segundo Deborah, os hospitais, quando geridos por pessoas especializadas em administrar, têm o desempenho melhor, tendo em vista que assim os médicos podem dedicar mais o seu tempo ao estudo da Medicina. "Temos exemplos de hospitais que, no passado, eram geridos pelos fundadores e depois por seus filhos e alguns são exemplos, em Goiás, de clínicas que deram certo com médicos na administração. Hoje, os próprios profissionais, preferem contratar pessoas da área de gestão para administrar seu negócio, o que no meu ponto de vista funciona melhor”, ressalta.

Deborah ainda esclarece que os planos de saúde fazem sua parte, no entanto os preços que pagam para cobrir as despesas, ainda mais se tratando de uma clínica oncológica em que os custos de medicação são altos, é baixo e tornam a gestão mais difícil. "Para termos uma ideia, com duas clínicas em Goiânia, durante esses 15 anos atendemos cerca de 500 mil consultas e 805 procedimentos, mais da metade disso foram atendidos pelos convênios”, diz.

Em comemoração aos 15 anos de existência do Cebrom, quinta-feira (27), às 19h, acontecerá, em Goiânia, a inauguração das novas instalações da clínica.

Perseverança, coragem e fé fazem parte de tratamento

A contadora Simone de Fátima Lamounier (48), da cidade de Piranhas, município na Região Oeste do Estado e a 310 km de Goiânia, e a dona de casa Flávia de Cássia, de Jataí, no Sudoeste goiano e distante 320 quilômetros da Capital, são duas mulheres que sofrem do mesmo mal: câncer de mama. Cada uma com uma história diferente, mas que enfrentam os mesmos dissabores, problemas e buscam a mesma solução, mesmo sabendo que poderão encontrar apenas o conforto e a solidariedade daqueles que as cercam.

A primeira, que somente descobriu ter câncer de mama ao fazer uma ultrassonografia já aos 40 anos de idade, decidiu por uma cirurgia radical e retirou os seios. A segunda optou por retirar o nódulo que havia sido detectado em uma das mamas. Ambas se mostram resignadas com o rigoroso tratamento a que são submetidas. Uma rotina angustiante de sessões de quimio ou radioterapia.

Simone de Lamounier, que usa peruca para disfarçar a queda de cabelo, explica que anualmente, no mês de novembro, fazia exames pelo sistema municipal de saúde de Piranhas. Uma vez que tem parentes com câncer, "tinha pressentimento que poderia acontecer também comigo, até que em um exame de rotina o médico descobriu o nódulo que, por ser pequeno dificultava o diagnóstico, pois não era sentido no exame de toque ou nas mamografias, sendo possível detectá-lo apenas através de ultrassonografia. Depois disso fui encaminhada ao Araújo Jorge e hoje (19) estou recebendo a última aplicação de quimioterapia”.

Flávia de Cássia, ao contrário de Simone, não usa peruca. "Recuperei meus cabelos, mas também já usei peruca”, diz ela. No entanto lembra que vem se submetendo a sessões de quimio e radioterapia e que há um ano fez a cirurgia para a retirada do nódulo. "Hoje, graças a Deus já me sinto recuperada. Tanto que até meus cabelos pararam de cair e já estão crescendo”, alegra-se.
Fonte: Diário da Manhã

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