GOSTO SE DISCUTE, ENSINA-SE

Gosto se discute, ensina-se Veículo: Jornal da Tarde - Página: 2A - Autor: Não Assinado  Data: 05/07/2012

A opinião de Fábio Gomes nutricionista do INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER-INCA: "Gosto se discute, ensina-se! As razões pelas quais escolhemos alguns alimentos em vez outros são várias: fome, quantidade de dinheiro, variedade dos produtos no mercado, a propaganda e, por fim, o gosto de cada um. É comum ouvir alguém dizendo que adora hambúrguer ou é apaixonado por refrigerantes. Pelo modo como se fala, parece que o gosto por determinado tipo de alimento é algo que as pessoas carregam  desde a primeira infância.   A definição de gosto passa por um processo de ensino e aprendizagem, desde pequenos até a idade adulta. Crianças alimentadas exclusivamente com leite materno até os 6 meses de idade, como recomenda o Ministério da Saúde, tem seu gosto educado para um paladar mais rico, com diversas texturas, cores, sabores e aromas. Estudos demonstram que o sabor do leite materno varia constantemente, desenvolvendo o paladar da criança. Com o começo da alimentação de sólidos, é comum o pai ou a mãe oferecer alimentos de sua preferência, fato que limita o paladar dos pequenos. Além da dificuldade de ofertar o que eles mesmos não gostam, em geral, os pais interpretam a "carinha" feia do bebê como um desgosto. Desde então , passam acreditar que os filhos não gostam disso ou daquilo. No entanto, é importante insistir na experimentação de frutas, legumes e verduras mais vezes, dando a chance de a criança sentir as texturas e os sabores que não conhece. O inédito para a criança é simplesmente estranho, e não necessariamente ruim. Com a chegada da adolescência, surge o início do consumo de bebida alcoólica, alavancado pelos grupos de amizade e pela publicidade, geralmente cômica e com mulheres atraentes. (o curioso é que a cerveja, com o passar dos tempos, mesmo amarga, pode ser uma nova companheira, para o resto da vida. Um exemplo claro de como o gosto pode ser apreendido.  As crianças crescem observando o que os pais compram, o que passa na TV, os desenhos estampados nos pacotes divertidos dos biscoitos nas prateleiras. No Brasil, a cada hora, pelo menos uma propaganda de guloseima é veiculada, isso só na TV. Dados do IBGE revelam que nas últimas trés décadas, a compra de biscoitos e refrigerantes quadruplicou. O estimulo ao consumo irrestrito desses alimentos por meio da publicidade agora se revela nas estatísticas de excesso de peso que já atinge metade dos adultos. Para enfrentar esses e outros problemas é importante que haja com as autoridades em nutrição e saúde pública o debate sobre hábitos, politicas e ações. É hora de impor limites ao mercado. Gosto é discutível sim, principalmente quando o assunto é o paladar."